quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SER-VÍCIO

Todo dia saio pra trabalhar
Passo pelas ruas sem notar o sol, apesar de suar
Noto a saia da abundante mulher
Só noto a saia, não noto a mulher
Noto as notas do meu notório salário
 
Era melhor ficar em casa ouvindo Beatles ou The Who
Não há sintonia com o natural
E a cada dia me sinto mais introspectivo e superficial
 
Antes ouvia a voz dos ventos
Não ligava pro conteúdo do convencional
Agora sou parte dum mundo grupal
Corro, corro, corro pra ser um marechal
 
Uma vereda enche o sertão, um peixe enche o mar
Antes de tentar ver o todo, deveria tentar ver em parte
Tudo está dentro de mim: natureza, destruição,
Guerra, paz, amor, traição
 
Não há necessidade de uso imediato
Nada mais precisa ser inventado
Nem sempre se extrai algo do que é atribuído de significado
Há muitos nomes e jogos de máscaras por todo o lado
 
Eu não tenho vontade de metrificar sentimentos
E nem sei se alguém quer ouvi-los
Minha vida é um circo
Sou um palhaço e domo um leão por dia
 
Estou cansado de ouvir, falar, pensar, sentir
Qual é o sentido de existir?
Não quero ser informado, ler no papel
Vou inventar o antitelejornal igual ao Samuel
 
Estou cansado de amar, odiar, entender, querer
Eu só quero ser
Eu não quero um ser-vício!


- Poema de autoria do meu grande amigo Ricardo Salvalaio, letrólogo, poeta, flamenguista e amigo, nas horas vagas.
Beijos, Rica.

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